Os casos de cyberbullying são praticados por sujeitos que não possuem sensibilidade moral: sabem que suas agressões, intencionalmente, intimidarão e menosprezarão o outro. Mas não conseguem constatar que em suas ações, falta um elemento moral – o respeito – que deveria ser para ele e para o outro. No mundo virtual, essas pessoas se sentem ainda mais encorajadas a praticar atos violentos contra colegas por não estarem frente a frente com seus alvos, por acreditarem na possibilidade do anonimato e na ausência de autoridades que possam eventualmente puni-los.
O que a escola deve fazer?
PASSO 1: Derrubar o conteúdo.
Compreendemos que se trata de uma situação delicada, que se propaga rapidamente, exigindo medidas imediatas para retirar o conteúdo das redes. As plataformas de redes sociais como o Google, Facebook e Instagram possuem mecanismos de segurança que podem ser acionados para a derrubada de conteúdos impróprios.
No entanto, os conteúdos compartilhados por WhatsApp são propagados com mais rapidez e difíceis de serem mapeados, por isso, a importância de pedir que todos apaguem o conteúdo dessa plataforma e peça para quem encaminhou a postagem fazer o mesmo.
Infelizmente, sabemos da dificuldade que é fazer com que a publicação seja permanentemente excluída.
A escola também pode pedir ajuda ao UNICEF que organiza campanhas antibullying junto ao safernet.
UNICEF: cleon@unicef.org
Instagram: instagram_br@mslgroup.com
Facebook:facebook@idealhks.com
Há um aplicativo muito usado pelos jovens hoje.
O aplicativo usado é o Lomotif: você seleciona determinadas fotos com alguma música da sua escolha.
O vídeo tem uma determinada duração, geralmente são segundos.
Ultimamente está como “modinha” fazer esses vídeos curtos para variáveis coisas.
Na hora de compartilhar você escolhe onde quer postar, por conta que você fica com o arquivo salvo no celular.
Então, é preciso saber de onde partiu o vídeo. Provavelmente, o vídeo deve ter sido postado em um perfil fake. Geralmente, eles não publicam na própria página para evitar represálias. Mas se chegou aos alunos pelo Facebook ou Instagram eles devem saber qual foi o perfil que publicou.
A primeira das ações da escola é investigar junto aos alunos, de onde veio o vídeo compartilhado. Mas isso não é fazê-lo publicamente com todos juntos e sim, chamar pequenos grupos de alunos que possam dar pistas de onde partiu esse problema. Investigar também com professores se sabem de algo. É preciso cuidar para que os alunos não se sintam “contra a parede” e nessa fase, apenas possam ajudar a procurar de onde partiram os vídeos para que se possa reverter essa situação.
Com os espectadores- aqueles que receberam o vídeo ou compartilharam ou que ficaram sabendo do problema, é importante pedir para se colocarem no lugar de quem está sendo exposto e tomarem consciência da necessidade de apagarem o conteúdo e incentivarem os outros alunos a apagarem também.
Deveremos mais à frente ter outras condutas com os espectadores.
Contudo, feita a coleta de informações com espectadores ou professores, funcionários, é preciso conversar com as vítimas que estão na escola. Como o caso em questão é um vídeo postado sobre vários colegas, os que foram zombados podem ser chamados para uma “roda de diálogo” caso a escola (professores e gestores) reconheçam quais são os alunos.
PASSO 2: Acolher, fortalecer e acompanhar as vítimas.
Acreditamos que as vítimas estejam se sentindo expostas, constrangidas, humilhadas e muito tristes. Por essa razão, é indispensável uma conversa com elas para ouvi-las sem julgamentos, com a intenção de reconhecer suas dores e a partir disso pensar em conjunto medidas que possam ser tomadas para tornar esse momento menos difícil para elas.
Assim, o professor ou gestor que conduz o diálogo com essas pessoas, pode começar a conversa dizendo que sabe que tem acontecido um problema pela internet e que chegou até muita gente um vídeo com ofensas às pessoas que estão ali. A partir da afirmativa dos alunos, é preciso perguntar a eles como se sentem nessa situação e ouvi-los atentamente. Ouvir suas tristezas e indignações sem fazer julgamentos. O professor pode “reconhecer” os sentimentos dos alunos, dizendo o quanto isso é triste e que imagina o quanto os alunos estão sofrendo com isso. O professor pergunta se sabem quem foi o autor/autores desse ato e pede se os alunos teriam evidências que comprovem isso.
O professor questiona aos alunos se eles têm ideia do que poderia ser feito para quer eles se sentissem melhor. Escuta as possibilidades e não permite que violências sejam as formas de resolver o problema. Explica que perguntará a quem apenas compartilhou ou recebeu os vídeos sobre o problema de ofensas na internet, mas que não falará no nome das pessoas vitimizadas e elas também não precisam se manifestar quando tratado o problema em público mesmo que todos saibam quem sejam as pessoas. Se os alunos não falarem, o professor pode questionar: vocês gostariam que esse conteúdo fosse removido? Vocês gostariam que fizéssemos uma força tarefa para remover esse conteúdo de todas as plataformas? Vocês gostariam que os autores desse problema buscassem essas soluções? Que tivessem algo a dizer nas redes para retratamento?
Além disso, nos outros dias, é preciso continuar acompanhando a situação, demonstrando apoio e suporte.
PASSO 3: Acompanhar o(s) agressor(es), pensar em reparação e formação
Sabemos que os agressores possuem menores níveis de empatia e sensibilidade, e que necessitam de formação e apoio para construírem aquela sensibilidade moral que falamos ser necessária. Portanto, não se deve fazer acusações ou julgamentos dos autores. O papel da escola nesse momento é fazer com que os autores consigam se colocar no lugar das vítimas, e refletir como eles se sentiriam caso fizessem o mesmo com eles, para em seguida realizar o processo de conscientização não apenas com os agressores, mas com toda a escola.
Quando e se descobrirmos a origem dos atos, é preciso falar com os agressores um a um, separadamente e cuidar para que não conversem entre si, antes de falarem com o professor.
Isso ajudará que eles não se “juntem” para se defender. É preciso questionar[2]:
Quando entra o agressor, é preciso olhá-lo nos olhos e convidá-lo a se sentar. Depois, o diálogo:
Eu gostaria de falar com você sobre algo que aconteceu com…. (nome da vítima). Ela está tendo problemas. Soube que… (contar o problema).
Outra alternativa:
◦ Eu gostaria de falar com você pois soube que está envolvido em alguns problemas com…. O que você sabe sobre isso?
◦ Você sabe o que a sua atitude causou às pessoas que foram expostas? Se fosse com você, como se sentiria?
E finalmente, o professor deve fazer uma última pergunta: O que podemos fazer a partir dessa conversa para resolver esse problema? O que sugere?
Anotar o que o agressor sugere para depois, com todos os agressores juntos, no final das entrevistas, então se pensar nas alternativas que têm para reparar o dano causado.
Depois de todos os agressores entrevistados, é preciso chamá-los para que possam apontar como serão as formas de reparação. Ações que não podemos abrir mão na lista de reparação:
1- Pedido de desculpas oficial com cada pessoa envolvida.
2- Momento para ouvir aqueles que foram vitimizados sobre como se sentiram.
3- Acompanhar a repercussão do conteúdo exposto na internet e agir de forma a conter a propagação.
4- Postagem nas mesmas redes sociais utilizadas de mensagens sobre o que é o cyberbullying e mensagens de apoio e encorajamento às pessoas que usam a internet a respeitarem os outros (depois de ter organizado momentos de estudos sobre isso – os alunos podem cumprir momentos de estudo e organização desse material na biblioteca em horários estabelecidos pela escola). A preparação desse material pode partir do trabalho com esse vídeo com os agressores:
“minha ação já magoou muitas pessoas, e não tem como desfazê-la. Porém, o que eu posso fazer a partir de agora?”